A morte cerebral, também chamada de morte encefálica, ocorre quando não há mais nenhum tipo de atividade cerebral, seja elétrica (dos micro-impulsos entre os neurônios), circulatória ou metabólica (referente a utilização de oxigênio, glicose e outros nutrientes pelas células cerebrais).
No entanto, é preciso que este fim das atividades seja irreversível. No ponto de vista legal, esta é a principal definição de morte, pois classifica o fim da vida mesmo que o coração ou pulmões consigam ser mantidos funcionando por aparelhos ou medicamentos. No entanto, mesmo com o cérebro não mais funcionando, a medula pode ainda executar algumas funções, operando o chamado sistema nervoso autônomo, que funciona de forma inconsciente, então o corpo ainda pode ter alguns poucos reflexos e o funcionamento de alguns órgãos.
Como a morte cerebral é determinada?
Quando o paciente entra em um estado de coma em que ela não reage mais de forma alguma a estímulos externos e nem aparenta percebê-los, o médico pode começar a suspeitar de uma morte cerebral. O diagnóstico da morte cerebral deve ser feito seguindo uma lista de critérios determinado pela Academia Brasileira de Neurologia e baseada em protocolos internacionais. Primeiramente é preciso que o médico exclua fatores que podem estar tornando a atividade cerebral imperceptível. São eles:
Hipotermia: quando a temperatura corporal está abaixo de 34 ºC, o corpo reduz a atividade cerebral como forma de proteção.
Presença de distúrbios metabólicos: existem doenças que também podem reduzir a atividade do cérebro quando não revertidas.
Uso de drogas sedativas: anestésicos e alguns tipos de medicamentos como os barbitúricos também podem levar a queda da atividade cerebral.
Eliminadas estas hipóteses, o médico faz um exame clínico que inclui os seguintes testes:
Reflexo da pupila: com auxílio de uma lanterna, o médico percebe se o paciente reage a luz
Reflexo da córnea: ao encostar um tecido na córnea do paciente, o especialista repara se ele reage ou pisca
Teste oculomotor: mantendo os olhos do paciente abertos, ele movimenta sua cabeça observando se há algum movimento dos olhos
Teste calórico: injeta-se uma pequena quantidade de soro fisiológico gelado no ouvido do paciente, para ver se ele tem algum movimento ocular na direção deste estímulo.
Estímulo doloroso: o médico bate na testa, articulação da mandíbula ou nas unhas do paciente, esperando alguma reação a dor
Reflexo de tosse: a traqueia é aspirada, percebendo se o paciente tosse involuntariamente com esta ação
Teste de apneia: o ventilador que mantém o paciente respirando é desligado por 10 minutos e os especialistas medem alguns parâmetros, como a taxa de gás carbônico no sangue, que indicam se ele está respirando sozinho.
Caso o paciente não reaja a nenhum destes testes, ainda é preciso comprovar a inatividade cerebral com ao menos um destes exames:
Eletroencefalograma: que avalia os impulsos elétricos do cérebro.
Doppler transcraniano: capaz de observar a pulsão de sangue pelas artérias.
Arteriografia digital: em que mostra as artérias do cérebro.
O diagnóstico precisa ser feito por dois médicos diferentes, que não precisam ser necessariamente neurologistas, em um intervalo de tempo que varia de seis a 24 horas, ou até 48 horas no caso de crianças.
Qual a diferença entre morte cerebral e coma?
O coma pode evoluir para uma morte cerebral, mas eles são quadros totalmente diferentes. Um coma é qualquer quadro em que há rebaixamento da consciência, mesmo que ela seja intercalada com períodos de despertar do paciente (o chamada coma superficial). Já no coma profundo o paciente fica por mais longos períodos em rebaixamento da consciência, mas ainda há atividade cerebral e ele pode até mesmo perceber estímulos ao seu redor. Na morte encefálica o cérebro já não tem mais nenhuma atividade.
O que acontece quando a morte cerebral é oficializada?
A morte cerebral é considerada um quadro oficial de morte, em que não há mais chances do cérebro retomar suas atividades e a pessoa voltar à vida. Portanto, depois que o fato é comunicado à família, os parentes sinalizam se a pessoa quer ser ou não doadora de órgãos e as máquinas são desligadas.
Quando as máquinas são desligadas?
O desligamento das máquinas é feito depois de a família ser comunicada. Caso o paciente seja doador de órgãos, as máquinas são ainda mantidas ligadas tempo o suficiente para remoção dos órgãos doados.
Por que a morte cerebral é tão relacionada à doação de órgãos?
Durante um quadro de morte cerebral o cérebro costuma ser o único órgão comprometido, portanto as estruturas tendem a estar mais apropriadas para um transplante. Mas isso varia, é claro, conforme as condições de saúde prévias do paciente. Quando há uma morte encefálica e o paciente é doador de órgãos, a equipe de transplantes avalia o histórico de saúde dele, assim como faz testes rápidos com os órgãos para ver se eles estão em condições para serem transplantados. Os órgãos que normalmente podem ser doados são: Coração
Pulmões
Rins
Córneas
Fígado
Pâncreas, entre outros.
É possível confundir a morte cerebral com outros quadros?
Existem sim quadros que podem levar a queda das atividades cerebrais como na morte cerebral, como hipotermia, uso de alguns medicamentos e analgésicos ou distúrbios metabólicos.
por Nathalie Ayres / Redação Minha Vida
Fontes consultadas
Neurologista Edson Issamu (CRM-SP: 75.760), especialista da Rede de Hospitais São Camilo (SP)
Neurologista Rubens Gagliardi (CRM-SP: 18.070), diretor científico da Academia Brasileira de Neurologia